Utilização de bicarbonato de sódio como estratégia para aumentar o teor de gordura no leite
A utilização de bicarbonato de sódio como tamponante na dieta de vacas leiteiras têm-se demonstrado uma ferramenta eficaz para maximização do resultado zootécnico e econômico dos produtores de leite. Sua utilização dentro das recomendações técnicas tem ajudado a elevar o teor de gordura do leite agregando valor ao produto na hora da comercialização com os laticínios, além de reduzir as perdas associadas aos quadros subclínicos de acidose metabólica.
A síntese do leite ocorre a partir dos nutrientes que chegam as células secretoras presentes na glândula mamária. Esses nutrientes, provenientes da dieta e outros gerados no processo de digestão ruminal chegam as células especializadas nas glândulas mamárias carreadas pelo sangue, onde são secretadas juntamente com novos metabolitos para produzir o leite.
Dentre todos os constituintes do leite, o teor de gordura é o que pode sofrer maior variação em virtude do ruminante utilizar com muito mais eficiência o acetato na produção da gordura do leite em relação aos outros ácidos graxos produzidos no processo de digestão ruminal. Aproximadamente metade da gordura presente no leite vem diretamente dos quilomicrons sintetizados no fígado e carreados pelo sangue. A outra metade é sintetizada dentro das células da glândula mamaria, principalmente a partir do acetato, sendo que a quantidade deste ácido graxo formado no processo de fermentação é fortemente afetado pelo pH ruminal.
Nesse aspecto, o entendimento da fisiologia ruminal ganha importância, na medida em que variações na composição do alimento, quantidade e tipo de fibra na dieta, manejo alimentar, podem afetar o tempo de ruminação tendo impacto sobre o pH ruminal e consequentemente a prevalência do tipo de ácido graxo formado.
A saliva do ruminante possui grande concentração de tampões bicarbonato e fosfatos que funcionam como tamponantes ruminais, de vital importância para manutenção do pH do líquido ruminal em níveis compatíveis com a fermentação microbiológica e a saúde do animal. Os tampões tem a propriedade de neutralizar os ácidos formados durante o processo de fermentação ruminal e daqueles gerados pelo metabolismo do animal. Quanto mais tempo o animal rumina, maior é a ingestão desses compostos e maior é o tamponamento ruminal. Quando fornecemos uma dieta pobre em fibra efetiva, estamos interferindo negativamente na fisiologia do rúmen, impedindo que quantidades adequadas desses tampões sejam deglutidos.
Entende-se como fibra efetiva, a fibra com características físicas capaz de estimular o processo de ruminação.
Efeito da proporção do volumoso: concentrado sobre a fermentação no rúmen
A consequência da baixa ingestão de fibra efetiva é um decréscimo no pH ruminal, o que prejudica a digestão da fibra celulósica que culmina na diminuição da produção de acetato e consequentemente queda na gordura do leite. Além da perda de desempenho e da diminuição da ingestão de alimento (acidose subclínica), a queda mais acentuada do pH pode gerar quadros mais severos, como atonia ruminal, timpanismo, desordens metabólicas em superfícies queratinizadas no interior do rúmen, laminites, abcessos de fígado e até a morte do animal, caso não seja feito nenhuma intervenção.
A fim de atender a grande exigência energética em vacas de alta produção leiteira, utiliza-se uma grande quantidade de concentrado em detrimento da fibra o que pode ocasionar quadros de acidose metabólica clínica ou subclínica, caso não se utilize tamponantes na dieta.
Outros fatores também podem propiciar o desenvolvimento do problema. Podemos citar por exemplo o fornecimento de da fonte de fibra separadamente do concentrado, a frequência da alimentação e fatores ambientais que interferem no comportamento dos animais.
Dessa maneira, a adoção do uso de bicarbonato de sódio associado ou não a outros compostos com características tamponantes na dieta dessa categoria animal pode ser adotada como estratégia na prevenção desses problemas. Tem-se recomendado a utilização de bicarbonato de sódio na dosagem de 1% da matéria-seca em associação ao óxido de magnésio na proporção de 0,4% da matéria-seca.
Alguns trabalhos tem demonstrado que o bicarbonato de sódio tem promovido uma maior taxa de passagem no rúmen, aumentando o consumo de matéria-seca, podendo ser um dos mecanismos pelo qual se observa, além do aumento no teor de gordura do leite, o aumento na produtividade dos animais tratados. Podemos concluir que a utilização de bicarbonato de sódio em dietas de vacas leiteiras em período de lactação apresentam vantagens econômicas, que agregam valor ao produto ao mesmo tempo em que reduzem os riscos de perdas associados a quadros de acidose subclínica.